pro·to·co·lo |ó|
substantivo masculino
1. Formulário.
2. Acta de conferências celebradas entre ministros plenipotenciários de diferentes nações, ou entre os membros de um congresso internacional.
3. Registo em que o escrivão do juízo relata o que se passou na audiência.
4. Regulamento que se observa em alguns actos públicos.
"protocolo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/protocolo [consultado em 09-03-2020].
Na ciência um protocolo não é mais que uma receita que se segue à risca para obter um determinado resultado/fim. Imagine que vai fazer um bolo de laranja; pesquisa a receita num motor de busca que guarda as suas bolachas, obtém cerca de 11 500 000 resultados, dá uma vista de olhos sobre os primeiros resultados e escolhe aquela que lhe parece melhor ou cujo sítio confia mais. A receita de bolo laranja escolhida é a seguinte:
Ingredientes
6 ovos M
200 g açúcar
100 mL sumo de laranja
1 c. sopa raspa de laranja
120 g farinha com fermento
Preparação
1. Pré-aqueça o forno a 180 °C.
2. Numa tigela bata os ovos e o açúcar durante 5 minutos até formar um creme esbranquiçado.
3. Junte o sumo e a raspa de laranja e misture bem.
4. Adicione a farinha cuidadosamente.
5. Coloque numa forma de bolos forrada com papel vegetal e leve ao forno 45 minutos a 170 °C.
6. Retire do forno, desenforme e deixe arrefecer antes de servir.
Prestando atenção à preparação, o passo 1 refere um pré-aquecimento a 180 °C mas não especifica de quanto tempo. Para além disso, assume-se que a temperatura no forno é uniforme e que está à temperatura desejada, não havendo quaisquer tipo de gradientes (diferenças locais de temperatura devido ao tipo de forno usado, geometria e a sua fonte de energia, gás ou electricidade). O passo 4 fala em adicionar a farinha cuidadosamente, mas não refere quantos gramas de farinha devem ser adicionados por minuto. De um protocolo escrito, com regras mais ou menos bem definidas, falta equacionar a subjectividade inerente ao próprio sujeito que interage com o mesmo e das dúvidas que este, o protocolo, pode suscitar no sujeito. Quanto mais detalhado um protocolo mais fácil é seguir as suas instruções passo a passo, sem nunca esquecer que o sujeito pode não seguir tal e qual essas indicações ou até não possuir o mesmo equipamento usado na receita "original". A experiência da repetição não significa que a repetição seja exactamente igual. Nasce, então, um novo protocolo que não é mais que uma réplica adulterada do anterior, uma iteração que acrescenta a subjectividade daquele que o replica.
A dúvida surge então: se para o método científico é necessário que a repetição de um protocolo dê os mesmos resultados, como, então, explicar que pequenas diferenças no mesmo não dêem azo a resultados diferentes? Se em vez de 45 minutos no forno decido que são 43, verificando que isso em nada afecta o resultado final, pode-se dizer que existe uma janela de gamas de valores ou parâmetros de condições iniciais (o bolo coze entre 43-45 minutos por exemplo). Surge, então, um conceito em investigação científica que é o valor médio e o erro. O erro é o que nos indica que o nosso resultado tem um valor médio mais ou menos um desvio (o erro associado). Posto de outra forma, imagine que vai cozinhar a mesma receita de bolo 5 vezes numa semana, usando os mesmos ingredientes, quantidades e o mesmo forno à temperatura indicada. Para cada bolo cozinhado o tempo de cozedura foi de 45, 43, 40, 49 e 41 minutos respectivamente. Em média, o tempo de cozedura foi de 43.6 minutos e com um erro ou desvio-padrão de 3.58 minutos. Dizemos então que naquelas condições o bolo coze entre os 40 e os 47 minutos e que este será o resultado se as condições e o protocolo forem as mesmas, mas não necessariamente o sujeito (que poderá ser diferente). Não se confunda, no entanto, que por se ter alterado algo no protocolo que surgiu um erro no resultado. Mesmo efectuando exactamente o mesmo protocolo, o resultado não será igual mas sim dentro da tal gama de valores do erro. Imagine o caso anterior em que cozinha 5 bolos numa semana mas desta vez em todas elas deixa o bolo no forno 45 minutos. Verifica que o resultado são 3 bolos secos, um no ponto certo e um mal cozido. A partir deste ponto, uma das possibilidades é efectuar mais investigação para identificar as discrepâncias entre o tempo de cozedura e o resultado final e se, eventualmente, haverá mais factores a ter em conta nesta equação. A partir de evidência empírica é possível construir teorias científicas como foi o caso das observações de Newton. No entanto, se se verificarem excepções é preciso reavaliar a teoria e se várias excepções forem verificadas deve-se então questionar completamente a teoria e, se necessário, refutá-la.
É na criatividade e capricho do sujeito (o investigador) que nascem os protocolos.
substantivo masculino
1. Formulário.
2. Acta de conferências celebradas entre ministros plenipotenciários de diferentes nações, ou entre os membros de um congresso internacional.
3. Registo em que o escrivão do juízo relata o que se passou na audiência.
4. Regulamento que se observa em alguns actos públicos.
"protocolo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/protocolo [consultado em 09-03-2020].
Na ciência um protocolo não é mais que uma receita que se segue à risca para obter um determinado resultado/fim. Imagine que vai fazer um bolo de laranja; pesquisa a receita num motor de busca que guarda as suas bolachas, obtém cerca de 11 500 000 resultados, dá uma vista de olhos sobre os primeiros resultados e escolhe aquela que lhe parece melhor ou cujo sítio confia mais. A receita de bolo laranja escolhida é a seguinte:
Ingredientes
6 ovos M
200 g açúcar
100 mL sumo de laranja
1 c. sopa raspa de laranja
120 g farinha com fermento
Preparação
1. Pré-aqueça o forno a 180 °C.
2. Numa tigela bata os ovos e o açúcar durante 5 minutos até formar um creme esbranquiçado.
3. Junte o sumo e a raspa de laranja e misture bem.
4. Adicione a farinha cuidadosamente.
5. Coloque numa forma de bolos forrada com papel vegetal e leve ao forno 45 minutos a 170 °C.
6. Retire do forno, desenforme e deixe arrefecer antes de servir.
Prestando atenção à preparação, o passo 1 refere um pré-aquecimento a 180 °C mas não especifica de quanto tempo. Para além disso, assume-se que a temperatura no forno é uniforme e que está à temperatura desejada, não havendo quaisquer tipo de gradientes (diferenças locais de temperatura devido ao tipo de forno usado, geometria e a sua fonte de energia, gás ou electricidade). O passo 4 fala em adicionar a farinha cuidadosamente, mas não refere quantos gramas de farinha devem ser adicionados por minuto. De um protocolo escrito, com regras mais ou menos bem definidas, falta equacionar a subjectividade inerente ao próprio sujeito que interage com o mesmo e das dúvidas que este, o protocolo, pode suscitar no sujeito. Quanto mais detalhado um protocolo mais fácil é seguir as suas instruções passo a passo, sem nunca esquecer que o sujeito pode não seguir tal e qual essas indicações ou até não possuir o mesmo equipamento usado na receita "original". A experiência da repetição não significa que a repetição seja exactamente igual. Nasce, então, um novo protocolo que não é mais que uma réplica adulterada do anterior, uma iteração que acrescenta a subjectividade daquele que o replica.
A dúvida surge então: se para o método científico é necessário que a repetição de um protocolo dê os mesmos resultados, como, então, explicar que pequenas diferenças no mesmo não dêem azo a resultados diferentes? Se em vez de 45 minutos no forno decido que são 43, verificando que isso em nada afecta o resultado final, pode-se dizer que existe uma janela de gamas de valores ou parâmetros de condições iniciais (o bolo coze entre 43-45 minutos por exemplo). Surge, então, um conceito em investigação científica que é o valor médio e o erro. O erro é o que nos indica que o nosso resultado tem um valor médio mais ou menos um desvio (o erro associado). Posto de outra forma, imagine que vai cozinhar a mesma receita de bolo 5 vezes numa semana, usando os mesmos ingredientes, quantidades e o mesmo forno à temperatura indicada. Para cada bolo cozinhado o tempo de cozedura foi de 45, 43, 40, 49 e 41 minutos respectivamente. Em média, o tempo de cozedura foi de 43.6 minutos e com um erro ou desvio-padrão de 3.58 minutos. Dizemos então que naquelas condições o bolo coze entre os 40 e os 47 minutos e que este será o resultado se as condições e o protocolo forem as mesmas, mas não necessariamente o sujeito (que poderá ser diferente). Não se confunda, no entanto, que por se ter alterado algo no protocolo que surgiu um erro no resultado. Mesmo efectuando exactamente o mesmo protocolo, o resultado não será igual mas sim dentro da tal gama de valores do erro. Imagine o caso anterior em que cozinha 5 bolos numa semana mas desta vez em todas elas deixa o bolo no forno 45 minutos. Verifica que o resultado são 3 bolos secos, um no ponto certo e um mal cozido. A partir deste ponto, uma das possibilidades é efectuar mais investigação para identificar as discrepâncias entre o tempo de cozedura e o resultado final e se, eventualmente, haverá mais factores a ter em conta nesta equação. A partir de evidência empírica é possível construir teorias científicas como foi o caso das observações de Newton. No entanto, se se verificarem excepções é preciso reavaliar a teoria e se várias excepções forem verificadas deve-se então questionar completamente a teoria e, se necessário, refutá-la.
É na criatividade e capricho do sujeito (o investigador) que nascem os protocolos.
Bolo de Laranja
João Burgal
2020
João Burgal
2020
João Burgal (Marinhais, 1988) vive atualmente no Porto é doutorado em Engenharia Química pelo Imperial College London. Fez investigação em membranas poliméricas para aplicação em processos de separação em contínuo e também em fraccionamento de biomassa e processos sustentáveis. A sua paixão pelos processos em contínuo levou-o à indústria farmacêutica com o objectivo de revolucionar a sustentabilidade e qualidade dos mesmos.
Em 2017 decidiu fazer uma viagem pela América do Sul onde fez voluntariado numa comunidade do Vale Sagrado dos Incas. A intersecção entre ciência e arte é um dos seus interesses, com particular foco na questão da literacia científica de forma a compreender o mundo moderno.
Em 2017 decidiu fazer uma viagem pela América do Sul onde fez voluntariado numa comunidade do Vale Sagrado dos Incas. A intersecção entre ciência e arte é um dos seus interesses, com particular foco na questão da literacia científica de forma a compreender o mundo moderno.